sábado, 18 de maio de 2013

Teresa




Vejo-a por ali.
Todos os dias na minha passagem me cruzo com a sua passagem. A vida não é mais que uma breve passagem e, as ruas de Lisboa, são a sua vida.
Passa os olhares por quem os desvia dos seus. O odor que lhe penetra a pele afasta todos os que por ela se cruzam. Restam-lhe os pombos que, como ela, fazem das ruas o seu abrigo.
Hoje queria falar!
Eu fui a personagem que às 8.30h da manhã lhe servia de confidente.
Falou!
Falou do preço do café no Pingo Doce e nas contas de matemática que tinha de fazer. Tudo em escudos. A sua vivência de vida ainda funcionava em escudos. Do tempo em que a vida lhe corria de feição, do trabalho no ministério onde ganhava dois contos de réis. Do juiz que não pagava ao marido, da casa que era dela junto ao Teatro São Carlos, de uma outra na Av. Almirante Reis. Interpelou-me se sabia onde era e foi logo explicando que metade da rua pertencia aos Anjos e a outra metade ao Socorro. Viajou nas memórias para a ilha do Farol num tempo em que fazia ganchos do cabelo durante a noite, enquanto umas raparigas se deitavam com homens por favor e tingiam o cabelo na Albertina em Faro. Entremeou estórias na sua história de vida numa corrente louca de palavras. Hoje precisava falar. Eu ouvi. Chama-se Teresa. Esse foi mais um rasgo das suas lembranças…..ou talvez não!